sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O pré-sal e o desenvolvimento sustentável

por Luís Fernando Guedes Pinto

É inegável a importância da descoberta de novas reservas de petróleo para o nosso País. Significa a conquista de um relevante estoque de energia, geração de riqueza, aumento da soberania e independência nacional, entre outros benefícios. Também é muito relevante reconhecer a importância e o avanço científico e tecnológico pelo fato de sermos capazes de explorar o petróleo nas situações extremas do pré-sal. Sem dúvida, este salto deve se desdobrar em diversas outras áreas do conhecimento.

Todavia, a celebração e a apresentação da descoberta e exploração do pré-sal como um marco na nossa história e o início de um novo País revela a miopia ou mesmo a ignorância de nossos líderes a respeito do desenvolvimento sustentável e onde podemos chegar. Destoa a comemoração pela descoberta de um recurso não renovável, de cadeia de produção poluente e um dos grandes responsáveis pelo aquecimento global e sua conseqüente ameaça para a humanidade. Tudo isto no século que desponta para a economia verde, a energia renovável, a biotecnologia, a reciclagem, os serviços ambientais, a logística reversa e tudo o mais que busca gerar riqueza e bem estar com minimização de impactos ambientais, conservação de recursos naturais, proporcionando condições para a permanência da humanidade na Terra no longo prazo.

O petróleo e o carvão mineral ainda são fundamentais para a nossa existência, devemos ser gratos a eles, mas deveriam ser tratados como símbolos do passado. O futuro está no sol, nos ventos, no solo, nas águas, na vida das plantas, animais e microrganismos e na inteligência e criatividade humana. Desconhecemos em grande parte o potencial natural para nos proporcionar alimentos, fibras, energia, fármacos e outras matérias-primas e produtos.

A solução de muitos dos nossos problemas pode estar em genes que não conhecemos. Nesse campo, não é possível pensar num limite. O limite do petróleo é queimar, produzir energia, virar fumaça, acabar e aquecer o planeta. Ao mesmo tempo, a alimentação de nossa espécie ainda depende majoritariamente de uma dezena de culturas agrícolas, usamos um número muito limitado de espécies nativas, seja de madeira ou de produtos não madeireiros. Enfim, desperdiçamos enormemente o potencial a nosso dispor, enquanto esgotamos os recursos não renováveis e poluímos e ameaçamos os não renováveis.

Se podemos nos orgulhar de ter o petróleo do pré-sal, que tal lembrarmos que somos um dos países que mais recebe energia solar, que possui grande reserva de água doce, um dos mais extensos litorais, a maior floresta tropical do mundo, um dos maiores reservatórios de biodiversidade, paisagens deslumbrantes, uma grande diversidade cultural e uma população capacitada e das mais criativas do planeta. Ainda vale destacar que estamos livres de terremotos, vulcões, furacões e tsunamis. Para alguns, a abundância de recursos e o desconhecimento da noção de escassez, seriam os responsáveis pela nossa miopia. Para outros, a ganância imediatista da nossa elite é o grande vilão pelo nosso tímido desenvolvimento e pujante degradação. É como se a Rio-92 não tivesse ocorrido, muito menos num país chamado Brasil. Lula esteve lá?

Portanto, as oportunidades de uma mudança de paradigma de desenvolvimento e uma revolução tecnológica nos poderia proporcionar uma riqueza de dimensão desconhecida, posicionar o Brasil de fato como um líder mundial, propondo e implementando uma nova referência para a humanidade. Será que a energia e as riquezas do pré-sal vão nos proporcionar as condições para esta transição, ou, ao seu final, faremos furos ainda mais profundos nos nossos próprios pés?

/*Luís Fernando Guedes Pinto*, engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia pela Esalq-USP, com diversos trabalhos publicados sobre certificação e sistemas de produção agrícola, é secretário-executivo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)./

Publicado no Portal Terra, Opiniões, Opinião Quarta, 9 de setembro de 2009, 16h45

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