domingo, 3 de janeiro de 2010

Vivendo o hoje

Faça uma pergunta para si mesmo: “o que é mais importante, o “hoje” ou o “amanhã”?”. Sem dúvida os mais metódicos e assustados possivelmente afirmarão que o amanhã é mais fundamental que o hoje, principalmente na idade jovem. Já aqueles com espírito aventureiro e que sentem prazer em mergulhar no desconhecido, dirão que é o hoje que detém o maior grau de importância. Quem estaria certo?

Uma vez disse-me um grande amigo: “temos uma vidinha só”. O argumento era sua principal força para ter a coragem necessária para conhecer seu pai biológico após vinte e três anos. E me fez pensar. Uma vidinha só, apenas uma oportunidade, uma geração, apenas essas tentativas. Depois, pó. Se há um motivo essencial para que estejamos vivos é para que possamos tirar o maior proveito de nossa estadia. O ser humano é um animal racional que busca sensações. Sua vida inteira é focada na busca por sensações e o resultado do que somos passa diretamente pela eficácia, ou não, dessa tarefa. Nascemos pelo amor, crescemos pelas risadas, trabalhamos pela felicidade da conquista, apaixonamo-nos, então novamente, pelo amor, para que assim venha o próximo nascimento. Entre tantas outras atividades, que objetivo mais teríamos se não a sensação que elas podem nos causar?

A vivência do hoje combinada ao abandono do amanhã não passa de rebeldia. Contudo, a não vivência do hoje baseada na preocupação do amanhã é covardia.

Muitas vezes estamos tão preocupados com o que pode vir a acontecer, tão amedrontados pelas consequências de nossos atos arriscados, que deixamos de experimentar determinados mergulhos em uma vida de excitação e nervosismo pelo desconhecido. A segurança plena e sólida pode ser um objetivo intangível, mas chegar muito perto pode significar a perda do colorido que somos capazes de enxergar nas pequenas experiências da vida. Escapam os momentos, perde-se o aprendizado, muitas vezes, pelo receio da dor.

O sofrimento virá, quer trabalhemos para evitá-lo ou não, pois faz parte da essência em ser humano. Jamais poderíamos mensurar a satisfação sem a contraposição daquilo que antagoniza as sensações. Pode vir de uma morte, de um término, de uma frustração, de um erro, mas ele virá, pois carrega consigo uma das mais fundamentais magias dessa maravilha da vida: a possibilidade de ensinar. Aprendemos com cada pancada, seja a desviar do segundo cajado de um babuíno louco ou a perceber que mergulhar tão fundo pode resultar em sangramento no nariz.

Não sofrer é como perder uma das partes essenciais que nos faz ser o que somos. Logo, fugir da possibilidade do sofrimento é o mesmo que fugir do jogo antes mesmo dele começar. Você não tem como perder, mas muito menos poderá ganhar. Nesse momento é que podemos perceber que, sim, o hoje pode ter mais importância que o amanhã, desde que o hoje carregue algo pelo qual valha a pena lutar, suar, sofrer e sorrir. O amanhã pode ser trágico, pode ser maravilhoso, mas por maior que seja a dor, não terá apagado os momentos que fomos capazes de viver e os sorrisos que nos sentimos capazes de dar. Agir com nobreza para fugir do amanhã e deixar de experimentar o que a vida nos proporciona viver hoje, não, eu não calculo que essa seja uma alternativa aceitável.


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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Quarta-feira, Dezembro 02, 2009

10 pessoas que eu seguiria

Meu filho ainda era pequeno quando isso aconteceu. Estava aprendendo a andar e eu o levava quando íamos comprar pão. Certa vez passamos por um rapaz sentado no meio-fio. Ele estava lá parado, sentado, o olhar perdido no nada, como se até mesmo pensar fosse um esforço grande demais. Com os passos pequenos de meu filho, demoramos a chegar na panificadora, e demoramos a voltar, mas quando voltamos, lá estava o rapaz parado, estático, bobo. Era como se ele estivesse apenas observando a vida passar diante dele.A experiência me marcou. Percebi que existem pessoas e pessoas. Existem aquelas que simplesmente passam pela vida e deixam a vida ir embora, sem fazer qualquer diferença. Por outro lado, existem aquelas que se destacam tanto que mudam o mundo, o nosso jeito de pensar, a nossa percepção das coisas. São os grandes, os gigantes, cujos passos deveriam ser seguidos. Eis a minha lista:

Monteiro Lobato
Ao pensar em alguém que fez a diferença em minha vida e na de muitas outras pessoas, o primeiro nome que me vem à mente é Monteiro Lobato. Lobato é muito mais do que um escritor de literatura infantil, embora ele tenha produzido uma obra genial nessa área. Lobato foi um visionário, alguém muito avançado para sua época. Mesmo sua abordagem da literatura infantil tinha muito de afronta aos pré-conceitos, afinal, na época essa era considerada uma área menor da literatura. Lobato me ensinou o valor da clareza, da importância de compreensão por parte do leitor. Ele escrevia sobre os temas mais difíceis e sempre de maneira agradável. Tenho visto tanta gente que acha que escrever é enrolar o leitor numa teia de dificuldades e palavras difíceis (muitas vezes usadas equivocadamente), e sempre penso: esse pessoal não leu Lobato. E Lobato era de uma sinceridade provocante, embora também fosse muito gentil (quando Mário de Andrade escreveu um texto matando-o, Lobato declarou: "Mário é grande, ele tem o direito de nos matar"). Uma de suas frases prediletas virou meu lema: "Isto acima de tudo: sê fiel a ti mesmo".

Alan Moore
Não há quem leia uma obra de Alan Moore e não passe a ver os quadrinhos de forma diferente. Moore revolucionou a maneira como as pessoas viam os roteiristas. Antes, as grandes estrelas eram os desenhistas, disputados a tapas pelas editoras. Parecia que os leitores só compravam as revistas por causa dos desenhos. Alan Moore produziu obras tão fantásticas que a simples menção de seu nome na capa de uma revista já é indício de boas vendas. Sua genialidade é tal que é muito difícil definir qual é a sua melhor obra. Miracleman, Monstro do Pântano, Watchmen, V de Vingança, Do Inferno, todos esses são obras-primas. E são como cebolas, que descascamos e descobrimos novos sabores, novas interpretações a cada leitura. A melhor obra é aquela que nos surpreende a cada leitura. Eu poderia passar o resto da minha vida lendo e relendo os trabalhos de Alan Moore e uma leitura jamais seria igual à outra.


Gandhi
A ética inabalável, o desprendimento pelo fruto de suas ações e a generosidade mesmo para com os inimigos são exemplos que deveriam ser seguidos por qualquer homem público. Infelizmente, os exemplos são poucos e, por isso mesmo, louváveis. Gandhi é um deles. A todos esses atributos, ele juntou mais outro: a inteligência e a estratégia. Até o início do século XX, os ingleses eram vistos como homens nobres e civilizados, que estariam tirando suas colônias da barbárie. A forma violenta como os ingleses reprimiram as pacíficas manifestações de Gandhi mostraram ao mundo uma situação invertida: o honrado britânico na verdade era um bárbaro, enquanto o pequenino hindu se comportava como um gentleman. Inteligência, acima da violência, essa foi a grande lição de Gandhi.


Hipátia

Entre 370 e 415 viveu em Alexandria uma filósofa chamada Hipátia. Filha do sábio Theon, ela foi criada para ser um exemplo do ideal helênico de mente sã, corpo são. Hipátia dominava a matemática, astronomia, filosofia, religião, poesia, as artes e a retórica. Dizem que andava pelas ruas ensinando Aristóteles, Platão e Sócrates a quem quisesse ouvir. O fato de ser mulher e o fato de estar esclarecendo o povo incomodou os cristãos fanáticos, que a pegaram na rua, tiraram suas vestes, deixando-a nua, e a levaram para uma igreja, onde ela foi retalhada com conchas até a morte. Depois seu corpo e suas obras foram queimadas. Mesmo sabendo que era perigoso, Hipátia foi fiel a si mesma até o último momento.


Chaplin
A minha ligação com Chaplin é mais que estética. É espiritual. Alguém que tinha as mesmas crenças que eu e o mesmo tipo de inimigo. E Chaplin ensinou ao mundo que havia poesia até mesmo nos momentos mais tristes... Indico um filme menos conhecido, mas genial, que demonstra bem o tipo de história que Chaplin contava: Luzes da ribalta, sobre um palhaço que salva uma bailarina do suicídio.





Lao Tse
Foi o criador do taoísmo e de uma filosofia que valorizava a mudança, muito antes de Pitágoras. Para entender sua importância, é importante lembrar que, para muitos filósofos, existia uma essência imutável e a mudança era apenas aparente. Ao valorizar a mudança, o taoísmo nos dá uma dica sobre como lidar com o mundo e com a nossa própria vida. Também foi uma antecipação do anarquismo, ao dizer que o melhor governo é o que menos governa. DuchampO homem que revolucionou a arte, invertendo a lógica. Antes dele, o artista era visto quase como um artesão, alguém que tinha uma habilidade manual e a usava para criar coisas belas. Duchamp mostrou que artista é o autor da ideia. Fazer arte é idealizar, é pensar sobre o mundo e até sobre a arte. A mudança de foco trazida por ele permite, por exemplo, que Alan Moore, um roteirista de quadrinhos, seja considerado um grande artista.


Danton
De onde acham que tirei meu nome? Em 1989, comemorava-se os 200 anos da revolução francesa e as bancas foram inundadas de publicações sobre o assunto. Comprei tudo que pude. E fiquei fascinado com a figura de Danton, o único dos revolucionários que se levantou contra o terror revolucionário, mesmo sabendo que isso lhe custaria a cabeça. Como dizia Lobato: seja fiel a ti mesmo. Até o fim. Gian Lorenzo BerniniAntigamente eu assinava Jean Danton. Mas parecia estranho. Não era um bom nome. Então, um dia, folheando um livro na biblioteca, acabei me deparando com um texto sobre Bernini. Fascinante. Ele representou para o barroco o que Leonardo da Vinci representou para a renascença. Era arquiteto, escultor, pintor, cenógrafo. Suas imagens tinham a perfeição dos renascentistas, mas eram mais emocionais, o que era destacado pelo uso da luz. Gostei muito, tanto que peguei dele o nome.

O estudante chinês que parou um tanque
Ninguém sabe seu nome, mas ele fez história. Ficou na frente de um tanque que vinha para reprimir os estudantes em protesto na Praça da Paz Celestial, em Pequim. O motorista tinha permissão de atropelá-lo, mas não o fez, comovido com aquele gesto que muito me lembra Gandhi. Eu vi essa cena quando lia sobre Danton e a revolução francesa. A cena marcou minha adolescência. Se eu morasse na China, estaria ali. E também seria provavelmente morto quando o governo chinês resolveu usar a violência para acabar com o protesto que pedia liberdade e lutava contra a corrupção. Um gesto para ser seguido por todos aqueles que não compactuam com os canalhas e ditadores. Todos aqueles que são fiéis a si mesmos.
Postado por Gian Danton/Ivan Carlo às 6:59 AM

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Mercado de Carbono irá expandir nos próximos anos

Enquanto no passado os preços do mercado de carbono estiveram altamente voláteis, em um mercado pós-copenhague os créditos podem ser vistos por investidores como um chão firme.

mercadocarbono

Durante as próximas décadas, o mercado global para créditos de carbono deve crescer para cerca de três trilhões de dólares, duas vezes o tamanho atual do mercado de petróleo. Esses créditos porém devem partir de investimentos de grandes incertezas, sendo utilizados como garantias contra prejuízos ou aumento da inflação.

Atualmente o esquema de comércio de emissões da União Europeia é o principal mercado mundial, mas os EUA, Austrália e vários outros países já demonstraram que tem esquemas parecidos em andamento.

A velocidade desse crescimento irá depender do que a conferência em Copenhague decidir, se forem incentivadas as economias com baixa emissões de carbono, mas independente disso, esquemas como o mercado europeu irão expandir pelo mundo todo.

Criticos reclamam que falta tranparência no mercado de carbono pois os verdadeiros compradores e vendedores se escondem atrás de corretores, mas de acordo com Alexandria Galin, responsável pelas políticas dos mercados de carbono e associação de investidores, isso é apenas um desenvolvimento natural enquanto o mercado amadurece.

“Instituições financeiras participam do mercado como parte de negócios, os quais elas não tem capacidade ou experiência para fazer por si próprias,” disse Galin.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Novas fontes de energia serão bem-vindas

O crescimento econômico deve estar atrelado à sustentabilidade ambiental

http://blogs.sudpresse.be/missterre/files/2008/03/parc-eoliennes.jpg

*Eduardo Pocetti – VALOR

O crescimento econômico do século XXI deve estar atrelado à sustentabilidade ambiental

O apagão sofrido por 18 estados brasileiros na noite de 10 de novembro ressuscitou o medo de que falte energia para suprir as necessidades da nossa economia aquecida. Ainda que o problema não tenha a ver com incapacidade de atender à demanda, é inevitável questionar: será que o Brasil aguenta o tranco de crescer quase 5% ao ano, como projetado para 2010? E as licitações ambientais? Elas vão continuar atrasando as obras de hidrelétricas importantes?

O crescimento econômico do século XXI deve, necessariamente, estar atrelado à sustentabilidade ambiental. Por isso, qualquer alternativa de geração energética que se adapte a esses critérios deve ser recebida com entusiasmo. Esse é o caso da energia eólica: até 14 de dezembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) examinará os cadastros de 441 empreendimentos focados nessa modalidade.

Otimizar a exploração do potencial eólico brasileiro é ainda mais oportuno dada a proximidade da 15ª Conferência Marco das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (CoP-15), que ocorrerá de 7 a 12 de dezembro, na capital da Dinamarca.

O principal objetivo da reunião, à qual o Brasil estará presente, é negociar um documento que substitua o Protocolo de Kyoto, que expira em 2012. A expectativa é enorme, e as pressões exercidas por diversos segmentos da sociedade, idem!

Desde que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da Organização das Nações Unidas (IPCC) reconheceu, em relatório oficial, que a temperatura da superfície terrestre está cada vez mais elevada e que esse aquecimento decorre das atividades humanas, teve início intensa mobilização em torno do tema. Hoje, governos, entidades de terceiro setor, organismos internacionais e iniciativa privada debatem alternativas para dirimir os problemas, levando em conta aspectos ambientais, humanos, científicos e econômicos.

Na contramão dessa aparente unanimidade – e, justiça seja feita, munidos de subsídios científicos consistentes -, outros grupos se opõem ferrenhamente ao que denominam “terrorismo ambientalista”. Embora minoritários, os partidários da ideia de que as mudanças climáticas são cíclicas, naturais e independentes da ação do homem arregimentam cada vez mais apoiadores.

É cedo para especular sobre os desdobramentos da cúpula de Copenhague. Mas, certamente, interesses e contextos múltiplos terão de ser avaliados e discutidos. Enquanto o Protocolo de Kyoto prevê metas diferenciadas conforme o estágio de desenvolvimento econômico de cada país, concedendo limites mais flexíveis para as nações emergentes, a disposição atual das nações ricas sinaliza uma postura muito menos condescendente, o que deverá se traduzir em regras mais duras para todos.

Essa inclinação ficou clara em Luxemburgo, onde os 27 países da União Europeia comprometeram-se com a fixação de metas de longo prazo para a redução de emissões de gases de efeito-estufa (GEEs): até 2050, suas emissões de dióxido de carbono devem ser de 80 a 95% menores do que em 2005.

Uma vez que a população tende a crescer, é imenso desafio conciliar as atividades imprescindíveis à manutenção de toda essa gente com o cumprimento das diretrizes ambientais pretendidas.

De antemão, já se sabe que as estratégias necessárias ao cumprimento dessas metas são abrangentes e preveem ações capazes de agradar até o mais xiita militante verde. Entre elas incluem-se a obrigatoriedade de submeter aviões e navios a regras de proteção ao clima e o estabelecimento de limites para as emissões do tráfego aéreo e marítimo.

Para os países que estão lutando para se posicionar como agentes econômicos fortes e competitivos no mercado mundial não é fácil assumir compromissos tão drásticos. Tanto que, durante a cúpula União Europeia-Brasil, realizada em outubro em Estocolmo, o presidente Lula deixou claro que o Brasil não teria como assumir a meta de “desmatamento zero”. Admitiu, porém, reduzir 80% do desmatamento até 2020, o que lhe valeu elogios por parte do presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, que definiu o plano brasileiro como “exemplar”.

O desmatamento é a principal fonte brasileira de emissões de gases de efeito estufa, e se essa meta for alcançada, o país deixará de emitir 5 bilhões de toneladas de gás carbônico anualmente.

Comparado à Rússia, à Índia e à China, o Brasil é o país que menos deixa a desejar no tocante à sustentabilidade. Além de dispor de uma das legislações ambientais mais rígidas do planeta, boa parte de suas indústrias já atua em conformidade com o que há de mais moderno em metodologias e recursos técnicos de produção mais limpa. Pioneiro e vice-líder na área de biocombustíveis, o Brasil detém a maior frota de veículos dotados de motor flex do mundo. Sua matriz energética é majoritariamente limpa e renovável, graças ao predomínio das hidrelétricas. Incluir as eólicas neste rol só agregará valor competitivo ao país.

É necessário, porém, encontrar caminhos para superar os entraves à exploração dessa fonte abundante e gratuita – o vento. Em primeiro lugar, a infraestrutura necessária ao seu aproveitamento custa caro, o que dificulta o uso da energia eólica em grande escala. Impõe-se também a necessidade de estudar os potenciais impactos negativos das usinas eólicas nas paisagens e na rota migratória das aves. Nesse sentido, o ideal seria fortalecer um modelo de parceria entre as universidades e o capital privado, onde a expertise intelectual das primeiras seria potencializada pela disponibilidade de recursos do segundo. Desse modo, seria possível imprimir maior velocidade às pesquisas, obtendo respostas rápidas e consistentes.

As empresas que souberem aproveitar as oportunidades, desenvolvendo negócios com o foco ambiental correto, terão chances concretas de colher resultados excelentes e de fortalecer sua participação nos mercados interno e externo.

Eduardo Pocetti é CEO da BDO no Brasil


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domingo, 27 de setembro de 2009

O seu lixo pode virar energia limpa

Tranformar o lixo das cidades em energia limpa, é a proposta do Engº Daniel Sindicic, Doutor na área de tratamento de resíduos sólidos e especialista em desenvolvimento sustentável.


Dados do IBGE indicam que no Brasil são gerados diariamente cerca de 140 mil toneladas de resíduos domiciliares, dos quais 70 mil toneladas são destinadas de forma totalmente inadequada nos lixões e o restante vai para aterros sanitários. Isso sem contar as 4 mil toneladas de resíduos produzidos pelos serviços de saúde, coletadas diariamente, das quais apenas 14% são tratadas adequadamente.

A falta de tratamento adequado dos resíduos em geral, a nova ocupação sucessiva de locais para deposição à medida que os mais antigos vão se esgotando, a própria escassez de espaço nas áreas urbanas, tudo isso vem gerando um problema cada vez maior e apresentando prejuízos incalculáveis para nossa sociedade em geral. Do ano de 1990 ao ano de 2000, a geração de lixo cresceu 49% enquanto a população cresceu apenas 19%. Dados do IBGE também estimam um crescimento populacional da ordem de 7,5 % nos próximos 10 anos. Isso significa que em 2019 seremos quase 206 milhões de habitantes no Brasil. E para onde vamos mandar tanto lixo?

Além de ser incentivador de ações que permitam maiores índices de redução e reciclagem, o Dr. Daniel Sindicic propõe a gestão de novas tecnologias para o tratamento dos resíduos sólidos urbanos. Para isso, ele acrescenta um novo “r” na tradicional lista dos 3 “Rs” do meio ambiente:

Os “Rs” ficam assim:

1 – Redução do consumo.
2 – Reutilização dos materias.
3 – Reciclagem.
4 – RECUPERAÇÃO DE ENERGIA (RECICLANDO ENERGIA).

“Uma ótima solução para a destinação do lixo nas cidades é a GERAÇÃO DE ENERGIA a partir do tratamento térmico dos resíduos sólidos urbanos”, afirma o Dr Sindicic.

Dentro dessa quarta proposta da RECUPERAÇÃO DE ENERGIA, observe o quanto de energia elétrica é produzida através da combustão de apenas 1 kg de lixo domiciliar, de acordo com o Dr. Sindicic.

Poderemos obter energia suficiente para operar:

- um secador de cabelos por 24 minutos.
- uma máquina de lavar por 20 minutos.
- uma geladeira por 2horas e 52 minutos.
- uma tv por 5 horas e 45 minutos.
- um forno elétrico por cerca de 22 minutos.
- um ferro elétrico por 43 minutos.
- um computador por 5 horas e 45 minutos.
- uma lâmpada incandescente por 4 horas e 12 minutos.

Com apenas 1 kg de lixo, pode-se obter energia suficiente para tomarmos 8 banhos.

“O lixo urbano pode produzir calor e energia quando usamos tecnologias modernas para aplicar o quarto “erre” – RECUPERAÇÃO DE ENERGIA – obtendo assim a ENERGIA LIMPA.” diz o Dr Sindicic, phD pela USP na área de combustão e diretor da DDMA – Doutores do Meio Ambiente – “Atualmente existe tecnologia suficiente para tratarmos termicamente o lixo e obtermos energia limpa, sem agredir o meio-ambiente em nenhuma parte do processo”, afirma ele, com a propriedade de quem implantou o primeiro equipamento licenciado deste tipo no Brasil e atua há mais de 20 anos na área de tratamento de resíduos sólidos (incluindo resíduos perigosos, resíduos de tratamento de efluentes etc).

Além da recuperação de energia, se retomarmos o montante acima (140 mil toneladas lixo/dia) e aplicássemos o tratamento térmico, poderíamos evitar que aproximadamente 36 milhões de toneladas de CO2 seja lançada na atmosfera em um ano, o que seria uma ótima contribuição para reduzir o efeito do aquecimento global.

São Sebastião (litoral norte de São Paulo) poderá ser a primeira cidade brasileira a ganhar ENERGIA LIMPA através deste processo. Com o apoio da iniciativa privada e dos DDMA – Doutores do Meio Ambiente – está sendo implantado o primeiro projeto no Estado de São Paulo para geração de energia a partir dos resíduos sólidos urbanos. A fase de implantação, que é a primeira etapa do projeto, consiste no estudo do lixo, onde é realizado um levantamento minucioso da quantidade de lixo gerado pela região e o que cada resíduo irá gerar de energia limpa. Esse estudo e gerenciamento do projeto em andamento é realizado pelo Dr. Daniel Sindicic, pioneiro na nacionalização das tecnologias necessárias para o processo. “Essa nacionalização da tecnologia viabiliza a instalação dos equipamentos e a construção de uma unidade de recuperação de energia (URE) dentro dos padrões Europeus” afirma o Dr. Sindicic.


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sexta-feira, 18 de setembro de 2009

O pré-sal e o desenvolvimento sustentável

por Luís Fernando Guedes Pinto

É inegável a importância da descoberta de novas reservas de petróleo para o nosso País. Significa a conquista de um relevante estoque de energia, geração de riqueza, aumento da soberania e independência nacional, entre outros benefícios. Também é muito relevante reconhecer a importância e o avanço científico e tecnológico pelo fato de sermos capazes de explorar o petróleo nas situações extremas do pré-sal. Sem dúvida, este salto deve se desdobrar em diversas outras áreas do conhecimento.

Todavia, a celebração e a apresentação da descoberta e exploração do pré-sal como um marco na nossa história e o início de um novo País revela a miopia ou mesmo a ignorância de nossos líderes a respeito do desenvolvimento sustentável e onde podemos chegar. Destoa a comemoração pela descoberta de um recurso não renovável, de cadeia de produção poluente e um dos grandes responsáveis pelo aquecimento global e sua conseqüente ameaça para a humanidade. Tudo isto no século que desponta para a economia verde, a energia renovável, a biotecnologia, a reciclagem, os serviços ambientais, a logística reversa e tudo o mais que busca gerar riqueza e bem estar com minimização de impactos ambientais, conservação de recursos naturais, proporcionando condições para a permanência da humanidade na Terra no longo prazo.

O petróleo e o carvão mineral ainda são fundamentais para a nossa existência, devemos ser gratos a eles, mas deveriam ser tratados como símbolos do passado. O futuro está no sol, nos ventos, no solo, nas águas, na vida das plantas, animais e microrganismos e na inteligência e criatividade humana. Desconhecemos em grande parte o potencial natural para nos proporcionar alimentos, fibras, energia, fármacos e outras matérias-primas e produtos.

A solução de muitos dos nossos problemas pode estar em genes que não conhecemos. Nesse campo, não é possível pensar num limite. O limite do petróleo é queimar, produzir energia, virar fumaça, acabar e aquecer o planeta. Ao mesmo tempo, a alimentação de nossa espécie ainda depende majoritariamente de uma dezena de culturas agrícolas, usamos um número muito limitado de espécies nativas, seja de madeira ou de produtos não madeireiros. Enfim, desperdiçamos enormemente o potencial a nosso dispor, enquanto esgotamos os recursos não renováveis e poluímos e ameaçamos os não renováveis.

Se podemos nos orgulhar de ter o petróleo do pré-sal, que tal lembrarmos que somos um dos países que mais recebe energia solar, que possui grande reserva de água doce, um dos mais extensos litorais, a maior floresta tropical do mundo, um dos maiores reservatórios de biodiversidade, paisagens deslumbrantes, uma grande diversidade cultural e uma população capacitada e das mais criativas do planeta. Ainda vale destacar que estamos livres de terremotos, vulcões, furacões e tsunamis. Para alguns, a abundância de recursos e o desconhecimento da noção de escassez, seriam os responsáveis pela nossa miopia. Para outros, a ganância imediatista da nossa elite é o grande vilão pelo nosso tímido desenvolvimento e pujante degradação. É como se a Rio-92 não tivesse ocorrido, muito menos num país chamado Brasil. Lula esteve lá?

Portanto, as oportunidades de uma mudança de paradigma de desenvolvimento e uma revolução tecnológica nos poderia proporcionar uma riqueza de dimensão desconhecida, posicionar o Brasil de fato como um líder mundial, propondo e implementando uma nova referência para a humanidade. Será que a energia e as riquezas do pré-sal vão nos proporcionar as condições para esta transição, ou, ao seu final, faremos furos ainda mais profundos nos nossos próprios pés?

/*Luís Fernando Guedes Pinto*, engenheiro agrônomo e doutor em Agronomia pela Esalq-USP, com diversos trabalhos publicados sobre certificação e sistemas de produção agrícola, é secretário-executivo do Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora)./

Publicado no Portal Terra, Opiniões, Opinião Quarta, 9 de setembro de 2009, 16h45

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Em tempos dos créditos de carbono, onde fica a logística reversa de produtos poluentes?

Hoje está sendo muito discutido entre reuinões do G20, na rodada DOHA, nos blocos econômicos e entre empresas, as metas de redução da emissão de carbono na atmosfera que agravam e aceleram o efeito estufa.

O assunto tem progredido de tal forma que as reduções empresarias já são tratadas como valores mobiliários negociados em bolsas de valores e em balcão, onde os clientes compram os créditos de carbono para dessa forma atingirem as metas de redução estipuladas.

Contudo, a preocupação com a poluição da atmosfera é tão importante quanto a poluição do solo, dos mananciais, dos lençóis freáticos e do desmatamento das florestas, principalmente no caso do Brasil e sua tradição em atividades em commodities agrícolas e extrativistas, com menos desenvolvimento do parque industrial de produtos manufaturados e de alta tecnologia, o que empobrece nossa infra-estrutura em processar os componentes poluentes dos produtos que consumimos como pilhas, baterias de celular, pneus etc. Até mesmo produtos básicos como óleo de cozinha, que tem alto poder de contaminção da água – pois um litro de óleo pode contaminar até 25.000 litros de água – não recebem tratamento pois a realidade brasileira de saneamento básico é precária e ainda pior é a realidade do tratamento do esgoto doméstico.

Analisemos o caso da Prefeitura da Cidade de São Paulo que através da lei 13.316/2002 regulamentou no ano passado a responsabilidade pela coleta, destinação final e reutilização de embalagens e pneumáticos por parte de fabricantes e distribuidores desses produtos em 50% no primeiro ano após a validade da lei, 75% no segundo ano e 90% no terceiro ano.

È uma legislação de primeiríssimo mundo que destoa de nossa realidade de coleta de lixo público (qué de responsabilidade do poder público!), de saneamento básico, de cultura da população e da classe empresarial quanto a coleta seletiva e reciclagem.

Abre-se, então, uma brecha para a logística reversa (ou a logística de retorno do mercado para a empresa) e a responsabilidade social das empresas em conscientizar seus consumidores e coletar seus componentes poluidores do meio-ambiente. É a aplicação de uma lei da física traduzida para o ambiente empresarial “Nada se perde. Tudo se transforma.” A iniciativa privada conscientiza seus consumidores e disponibiliza postos de coleta dentro de sua cadeia de negócios. O poder público reforça a comunicação da responsabilidade de todos em destinar corretamente esses produtos poluentes, equipa os veículos de coleta, também disponibiliza postos de coleta, e promove a coleta dos postos até os locais de reciclagem ou destinação final desses produtos.

Seguem abaixo alguns exemplos de oportunidades de negócios com reciclagem de produtos costumeiramente descartados:

óleo de cozinha = sabão em pedra, detergentes, biocombustível;

pilhas e baterias = artefatos cerâmicos e vidros;

tubo de pasta de dente = telhas e materiais diversos na indústria da construção;

pneu = combustível-alternativo, asfalto, solado para calçados, tapetes, pisos;

isopor = tijolo poroso, argamassa, cimento leve.

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